A Baixada Santista tem 85 casos de leptospirose notificados, do início do ano até agora, pela Direção Regional de Saúde (DRS). Dentre eles, 13 confirmados, duas mortes e outras duas famílias em desespero: Uma no Rádio Clube, em Santos, e outra no bairro Santa Rosa 3, em Guarujá.

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Após idas e vindas a unidades de saúde e diagnósticos desencontrados, Kayque Sotero Costa, de 18 anos, e Silvana Mattos de Souza Martins Gervásio, de 30, são as duas primeiras vítimas fatais da doença em 2012.

Dois laudos, um do Guilherme Álvaro e outro do Instituto Adolfo Lutz (que ficaram prontos nos últimos dias), atestam que o jovem Kayque, morador do Rádio Clube, na Zona Noroeste, em Santos, morreu vítima de leptospirose. No entanto, até a morte do garoto, no último dia 27 de junho, em nenhum momento ele foi tratado com este diagnóstico.

Segundo a família, na quarta-feira (20) quando o jovem foi levado ao Pronto-Socorro da Zona Noroeste com febre, vômitos e fortes dores nas costas e abdômen, foi dito que o problema eram apenas gases. Daí, a família lembra que foi dito que ele tinha pedras nos rins, depois apendicite e gastrite. “Ele foi seis vezes ao pronto socorro”, lembra a irmã Wisning Naiara Sotero Costa.

Na segunda-feira (25), Kayque foi levado pela família ao Pronto-Socorro Central e passou por uma nova bateria de exames. “O médico disse que tinha uma máquina quebrada e que não iria poder ter acesso ao resultado dos exames. O que ele tinha em mãos era um raio-x que, segundo ele, mostrava uma broncopneumonia”, lembra a irmã.

Mais uma vez, Kayque foi liberado, sob protestos do pai. “Ele já não estava quase andando, respirava muito mal, vomitava sangue. É coisa de pai, sabe? Quando liberaram ele naquela situação, eu senti que perderia meu filho, meu parça, meu amigo. Era o caçula de seis irmãos”, desespera-se o pai, Jurandir Sotero Costa.

O irmão Luigy, lembra que mais uma vez Kayque foi levado ao hospital e, desta vez, o médico que o atendeu se espantou com o quadro do jovem. “Eu vi na cara do médico a gravidade dos exames. Acho que até o Kayque percebeu. O médico pediu para a gente colocar ele na maca e eu peguei ele no colo. Ele apertou a minha mão com força, até ficou a marca da unha, e perguntou o que estava acontecendo, ele disse que sabia que era grave. Eu pedi pra ele ficar calmo, enquanto estavam levando ele. Depois o médico disse que era dengue hemorrágica e que a situação dele era grave”, lembra o irmão.

Kayque ficou internado e na quarta-feira pela manhã, Wisning ficou desesperado quando o viu. “Ele estava cheio de sangue. Ele vomitava sangue e ninguém limpava. Eu, com a toalha que estava chorando lá fora, comecei a limpar meu irmão. Ele me pediu ajuda. Disse que estava sendo maltratado. Que morria de dor e ninguém ajudava ele. Aí, ele já estava com os olhos amarelos”, diz com lágrima nos olhos.

“Ele estava sem respirar e ficava olhando os aparelhos. Acho que algum médico ensinou a interpretar aqueles números. Quando começava a baixar, acho que os batimentos cardíacos, não sei, ele batia no peito e se agitava. Olha que absurdo, imagina o sofrimento dele? Ele sofreu demais”, deduz a irmã em um suspiro. Tentaram conseguir uma vaga em UTI, mas na própria quarta-feira Kayque morreu.

“Eu criei durante anos meus filhos sozinho, sem a mãe. Quando o Kayque era bebê e acordava a noite, eu ia embalá-lo e ele vinha procurar meu peito, achando que podia mamar. Eu fui pai e fui mãe. Fizemos de tudo e deixaram meu filho morrer”, soluça o pai com as mãos na cabeça.

Prefeitura

“Estamos esperando o resultado final do Serviço de Verificação de Óbitos para emitirmos uma nota oficial”, afirmou a secretária de Saúde de Santos, Maria Ligia Lyra Pereira. Segundo ela, existem informações desencontradas, por isso, irá esperar os documentos finais para se manifestar. Ainda assim, a secretária afirma que o quadro de leptospirose de Kayque foi atípico.

Fonte: A Tribuna